Protótipo de comboio português está a nascer na Maia

No início de 2026, deverá estar concluído o primeiro protótipo de um comboio 100 % nacional. O projeto está a ser levado a cabo por um consórcio liderado pela SERMEC, empresa com sede na Maia, e financiado pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), com o objetivo de produzir material circulante ferroviário em Portugal.

A ideia surgiu na sequência do trabalho desenvolvido pela empresa da Maia de recuperação de carruagens nas oficinas da CP em Guifões, Matosinhos. “O Estado não tinha dinheiro para comprar comboios, comprou as carruagens ARCO que estavam desativadas Espanha, nós fizemos a sua recuperação e agora estão a circular”, conta o CEO da SERMEC

“O presidente da CP achou interessante uma empresa portuguesa conseguir fazer isso e acabou por nos convidar para entrar neste consórcio com o intuito de revitalizar o sector para a ferrovia”, acrescenta.

O projeto piloto engloba a construção de três carruagens, uma carruagem piloto de primeira classe, uma segunda com bar, e uma terceira também de segunda classe, que pode ser produzida para permitir o acesso com bicicletas. A carruagem de 2.ª classe deverá ter capacidade para 80 passageiros, a de 2.ª classe com bar para 46 e a de 1.ª classe para 42/46 pessoas.

No que toca à inovação, tem uma característica diferenciadora que é o ‘push-pull’. É a uma tecnologia que permite que o comboio, além da locomotiva e das carruagens comuns, tenha uma carruagem com lugar de maquinista incorporado numa das pontas, permitindo que a locomotiva não tenha de mudar de uma ponta do comboio para a outra de cada vez que muda o sentido da viagem, funcionando, na prática, como uma automotora.

De acordo com Mário Duarte, “depois de ter este comboio ser homologado e certificado, podemos concorrer aos diversos concursos a nível europeu”. “São precisos novos fornecedores e, desta forma, nós conseguimos entrar também no mercado de fabricantes e para a economia nacional isto é muito bom”, justifica. 

O empresário acredita que a concretização do projeto vai ser um contributo para a melhoria sustentada da balança de pagamentos. Por um lado, e relembrando que a CP necessita de 800 veículos de 25 metros nos próximos 20 anos para manter a oferta atual, “vai permitir a diminuição de importações”. Por outro lado, vai permitir o aumento de exportações. “Há uma forte aposta da União Europeia no modo ferroviário e uma procura de novos veículos e há grandes  limitações do lado da oferta”. 

Revitalizar economia

Para a economia nacional, a concretização do projeto vai representar uma revitalização da indústria nacional, uma independência tecnológica num setor estratégico em forte expansão, com a diminuição do custo de ciclo de vida. Vai, ainda, provocar impacto na competitividade empresarial com alteração do perfil de especialização produtiva do país e contribuir para a neutralidade carbónica e resiliência energética. 

O comboio 100% nacional vai contribuir, também, para o surgimento de um novo perfil de qualificações de recursos humanos. É que para desenvolver este projeto, a SERMEC recorreu ao conhecimento de engenheiros da Sorefame, empresa da Amadora que encerrou as portas, que, entretanto, se tinham reformado e que estão a trabalhar, lado a lado, com jovens engenheiros”.

O projeto, que tem uma forte componente de Investigação e Desenvolvimento, faz parte das Agendas Mobilizadoras para a Inovação Empresarial, do PRR, envolvendo o total de 58 milhões de euros.

A SERMEC lidera um consórcio do qual faz parte a CP, a Associação dos Industriais Metalúrgicos, Metalomecânicos e Afins de Portugal (AIMMAP), a Busrail, o Centro de Apoio Tecnológico à Indústria Metalomecânica (CATIM), a Fibrauto, o Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica de Engenharia Industrial (INEGI), a Nomad Tech, a New Sign Solutions, a Plataforma Ferroviária Portuguesa, a Phyxius Holding, a Sunviauto e a Universidade do Porto.

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