Entre o fim do conflito e o fim da Europa

Maia organizou Seminário “Guerra na Ucrânia: Contexto e Cenários”
“Se esta guerra durar mais seis meses a Europa afunda-se. Será o caos na Europa”. A afirmação partiu de Fernando José Cardoso. O Coordenador de Estudos Estratégicos do Instituto Marquês de Valle Flor e Professor Universitário da Universidade Autónoma de Lisboa foi um dos oradores no Seminário “Guerra na Ucrânia: Contexto e Cenários”, este sábado à tarde, numa organização da Câmara Municipal da Maia. O orador falava sobre as consequências do conflito, nomeadamente da escalada dos preços da energia e do gás.
Questionado sobre se a União Europeia continua mobilizada para estar ao lado dos decisores, Fernando José Cardoso apenas referiu: “A União Europeia tem uma fraqueza que se chama Eleições”.
O evento de Relações Internacionais enquadrou-se na exposição de fotojornalismo World Press Photo 2022, que esteve patente ao público no Município até 20 de novembro, e reuniu na Maia investigadores com competência para ajudar a perceber melhor o contexto e os cenários da Guerra na Ucrânia.
O objetivo era promover uma discussão esclarecedora e uma reflexão sobre o que se passa em torno deste conflito. O Seminário foi orientado pelo vereador das Relações Internacionais da autarquia, Paulo Ramalho, que colocou algumas questões em cima da mesa para “perceber porque é que aconteceu, perceber o contexto e perceber o que pode ser o futuro”.
De acordo com Paulo Ramalho “o que se está a passar na Ucrânia não era esperado e acaba por afetar a vida de todas as pessoas no mundo. Vejamos a questão da energia, da alimentação, a inflação, os combustíveis e acima de tudo o problema da Paz, a Paz que damos por garantida e afinal não é garantida”.
Surpresa. Foi a palavra usada por Sandra Dias Fernandes, oradora no seminário, para descrever a forma como ficou quando despertou naquela manhã de fevereiro, recordando a aproximação gradual que a Rússia estava a fazer à Europa. “A Rússia era vista como uma espécie de periferia bárbara, que fez um longo percurso de aproximação à Europa”. Por isso, não deixou de ser uma surpresa a invasão, recorda a Diretora do Mestrado em Relações Internacionais da Universidade do Minho.
“Não parecia racional isso vir a acontecer, mas o que é certo é que aconteceu”, afirmou Azeredo Lopes, Professor Universitário da Universidade Católica Portuguesa, ex-ministro da Defesa, que prefere falar em “culpas partilhadas”. No entanto, acredita que “quanto mais transformarmos Putin num ser da Trevas, mais dificuldades teremos em lidar com a grandiosidade que ele pensa que tem”.
Sendo certo que “nunca se pode compreender, justificar um caminho pela agressão”, o ex-ministro considera que Vladimir Putin subestimou alguns fatores, com destaque para dois que são “a mudança na presidência americana, e a saída de Angela Merkel da Alemanha”.
Fernando Jorge Cardoso acrescentou, ainda, que esta guerra não pode terminar com a abdicação de princípios, mas pode terminar com o assumir de um compromisso.
“Neste caso, a palavra Paz não faz sentido e não se alcança em seis meses”, afirmou Sandra Dias Fernandes. A oradora considerou que “isso não resolve o problema mais amplo face à gravidade que esta guerra provocou”.
Fotografia: Mário Santos / CM Maia