Mariana de ouro
Campeã Nacional de Ciclocrosse. Campeã Nacional de Fundo (estrada). Vencedora da Taça de Portugal de Ciclocrosse. Campeã Nacional de XCE. Campeã Nacional de Rampa. Campeã Nacional de Contrarrelógio. Campeã Nacional de XCO. Vencedora da Taça de Portugal de XCO. E tudo isto apenas em 2020. Apresentamos-lhe Mariana Líbano, ciclista maiata de 17 anos.
TEXTO: Cláudia Maia Mendes FOTOGRAFIA: Mário Santos
Esta atleta de Moreira da Maia pertenceu, entre 2017 e 2021, à equipa de ciclismo Os Maiatos. A pandemia veio motivá-la ainda mais, e durante o período de confinamento treinou todos os dias, saindo apenas para ir correr e fazendo o restante treino em casa, através do rolo (aparelho que permite encaixar a bicicleta e pedalar sem sair do lugar). Apesar da idade, Mariana demonstra uma maturidade incomum na adolescência. A sua determinação e foco nos seus objetivos são visíveis e capazes de impressionar qualquer um. Justifica-os com a sua grande ambição, que tem desde pequenina. “Nunca gostei de ficar mal classificada em competições. Sempre trabalhei bastante para conseguir chegar ao mais alto nível, e ainda hoje, em cada treino, tento sempre atingir o meu limite, porque sei que é isso que me faz evoluir. Desde pequena que tenho esta ambição de ganhar e de chegar o mais longe possível. Sei que ainda tenho muito trabalho pela frente, mas sei que é possível. Basta querer”.
Admite, no entanto, que nem sempre é fácil ter um percurso tão dedicado à prática do ciclismo, especialmente para uma jovem. “O mais complicado é mesmo conseguir conciliar o desporto e a vida social. É muito difícil conseguir estar completamente inserida num grupo de amigos”, confessa, ainda que sem amargura e com perfeita consciência de que, na sua gestão de tempo, toma as decisões certas: “sei que, para atingir o meu objetivo, tenho de me esforçar. Se isso significa abdicar de algumas coisas, as escolhas têm de ser feitas, e tenho de abdicar daquilo que não faz parte do meu foco”.
No que diz respeito aos estudos, área que não descura, Mariana sublinha que a Escola Secundária do Castêlo da Maia, estabelecimento que frequenta, tem um projeto para os alunos de alto rendimento, o que lhe facilita bastante o processo de aprendizagem e de reposição de aulas, sempre que as competições a obrigam a faltar.
Encontra na família o seu “maior apoio”, o seu suporte. Sente-se valorizada pela comunidade e reconhecida pela Autarquia, cujo apoio prestado às equipas considera “essencial” para que estas possam “evoluir, investir na formação dos atletas e levá-los a provas”. Considera o concelho da Maia um local “espetacular para treinar”, por onde “todos os ciclistas deveriam passar, especialmente os que praticam BTT”. Quando quer fazer treino de estrada, Mariana opta frequentemente pelo Monte São Miguel-O-Anjo ou pela subida de Vilar de Luz, que pertence ao município.
Quando a questionamos sobre os seus principais objetivos a longo prazo, sobre os seus grandes sonhos, Mariana ri-se. “Prefiro falar nestes primeiros anos, porque o futuro pode mudar muito rapidamente”, diz, com uma sabedoria e sensatez que não parecem encaixar na idade. E confidencia-nos: “para já, sonho em estar num top 10 a nível mundial nestes próximos 2/3 anos”. E nós não duvidamos.
Conta-me um pouco do teu percurso até aqui, como começou a tua carreira no ciclismo?
Começou com uma apresentação de ciclismo numa escola. Eu tinha cerca de 5/6 anos, e não fazia a mínima ideia de que existiam escolas de ciclismo, onde se podia aprender tanto. Foi numa escola de ciclismo que eu aprendia a andar de bicicleta. Comecei porque não sabia andar de bicicleta, e a minha mãe achou boa ideia juntar-me a mais crianças, pelo convívio, e para efetivamente aprender. Entretanto, apanhei-lhe o gosto… E nunca mais larguei o ciclismo.
Sempre tiveste como objetivo chegar até aqui, ser tão premiada era algo com que sonhavas e ambicionavas, ou foi algo que não imaginavas e que simplesmente aconteceu de forma natural?
Sempre sonhei. Desde pequenina que sou muito ambiciosa, e quando digo muito, é mesmo muito. Nunca gostei de ficar mal classificada em competições, mas aceitei sempre que isso aconteceu. Sempre trabalhei bastante para conseguir chegar ao mais alto nível. Ainda hoje, em cada treino tento sempre atingir o meu limite, porque sei que é isso que me faz evoluir, para depois numa prova o conseguir fazer com mais facilidade. Desde pequena que tenho esta ambição de ganhar e de chegar o mais longe possível. Sei que ainda tenho muito trabalho pela frente, mas sei que é possível. Basta eu querer.
Qual é a parte mais difícil de ter uma vida tão dedicada à prática de uma modalidade?
O mais difícil é conseguir conciliar o desporto e a vida social. É muito difícil conseguir estar completamente inserida num grupo de amigos… Sinto isso porque eles dizem que vão sair, e eu tenho que dizer que vou treinar. Saio da escola e ou vou estudar, ou vou treinar. Os meus amigos têm mais tempo e por isso podem ir conviver um pouco e só depois estudar. A parte familiar também é um pouco complicada, visto que ou estou na escola, ou estou a treinar, ou estou a estudar… De resto, acho que não há assim mais nada muito difícil de gerir.
E nesses momentos em que tens de escolher entre os treinos ou a vida social, o que passa pela tua cabeça? Como fazes essa racionalização da gestão de tempo? O que é que te leva a manter o foco?
Eu sei que a probabilidade de eu alcançar o meu principal objetivo é grande. Mas também sei que, para isso, tenho de me esforçar. Se isso significa abdicar de algumas coisas, as escolhas têm de ser feitas, e tenho de abdicar daquilo que não faz parte do meu foco. Ou seja, acabo por escolher ir treinar e não ir sair com os meus amigos.
A pandemia alterou alguma coisa na tua carreira?
Sim, sem dúvida. No início da pandemia estava muito motivada, pode parecer estranho, mas estava mesmo. Mesmo sabendo que não podia ir treinar para a estrada ou para o monte, podia ir correr, que era permitido, e podia estar em casa a fazer um treino de rolo (aparelho que permite encaixar a bicicleta e pedalar, sem sair do lugar) ou um treino físico. Consegui adaptar-me e assumir um pensamento de “são novas rotinas”. Posso até dizer que gostei das ditas rotinas. Pelo meio da quarentena, surgiu uma fase em que já não estava tão motivada. Não me apetecia assim tanto treinar. Mas aí o meu treinador ajudou-me a motivar a mim própria. Depois, quando começou o desconfinamento, já podíamos ir treinar para a rua. No fundo, a pandemia ajudou-me a ter ainda mais certezas de que andar de bicicleta é mesmo o que eu gosto de fazer, o que me traz alegria.
És natural da Maia, certo? De que parte?
Sim, Moreira da Maia, onde vivo atualmente.
Há algum local aqui no concelho no qual tenhas treinado, no qual gostes de andar de bicicleta?
Sim. Eu praticamente só treino na zona da Maia. O concelho tem sítios espetaculares para se treinar, e acho verdadeiramente que é um sítio onde todos os ciclistas deviam passar, especialmente os que praticam BTT. Tem pistas com técnica, tem pistas que permitem fazer vários km, para quem não gosta tanto de técnica… tem pistas muito variadas. Sinto-me muito bem situada, porque consigo ter tudo o que preciso perto de mim. Quanto à estrada, os meus treinos de séries são frequentemente no Monte São Miguel-O-Anjo ou então na subida de Vilar de Luz, que ainda pertence à Maia.
Há pouco falavas nos teus principais objetivos, mas não os enumeraste. Queres revelar quais são?
(risos) Eu prefiro falar nestes primeiros anos, porque o meu futuro pode mudar muito rapidamente, e sei disso. Neste momento, ou seja, nestes próximos dois/três anos, sonho em estar num top 10 a nível mundial.