Cem anos depois, de novo ao serviço da luta contra uma pandemia

Aloísio Nogueira
Sede da antiga Junta de Freguesia da Maia já havia servido como hospital de campanha durante a pandemia de 1918. Hoje acolhe um centro de rastreio que faz os inquéritos epidemiológicos aos doentes de COVID-19.

O carismático edifício da sede da antiga Junta de Freguesia da Maia foi construído em 1917 para servir de creche. Porém, mal ficou pronto, eclodiu a pandemia de gripe pneumónica que chegou a Portugal na Primavera de 1918.

Perante o quadro sanitário catastrófico que se seguiu, as autoridades de saúde requisitaram a nova creche da Maia, ainda por ocupar, para a utilizar como hospital de campanha, ao serviço do combate à pandemia de gripe.

Hoje, o edifício volta ao combate sanitário. Nele foi instalado um centro de Rastreio Colaborativo Covid-19 que realiza inquéritos epidemiológicos aos doentes infetados com vírus SARS-CoV-2, por forma ajudar à quebra das cadeias de transmissão.

A gripe espanhola, como também ficou conhecida desenrolou-se no mundo em três vagas, e Portugal não foi exceção. Segundo os historiadores, o primeiro surto eclodiu na primavera de 1918 e foi relativamente benigna. A segunda vaga, porém foi muito mais letal. O vírus ressurgiu em agosto na zona do Porto, daí irradiando para o Minho e para o Douro, aparecendo também no centro do país. A partir de setembro expandiu-se até alcançar o Algarve. Esta segunda vaga foi particularmente letal e violenta, sem paralelo, tanto em relação a outras epidemias a que o país estava habituado, como relativamente a surtos graves de “influenza” anteriores Uma terceira vaga viria ainda a ocorrer em maio e junho de 1919, sem o carácter devastador da anterior.

Um desastre demográfico

De acordo com estatísticas oficiais, enumeradas na obra “Centenário da Gripe Pneumónica: A Pandemia em Retrospetiva”, terão morrido em Portugal perto de 56 mil pessoas apenas em 1918, a que acresceriam um pouco mais de 3 mil em 1919.
A mortalidade provocada pela pneumónica em Portugal terá sido das mais elevadas da Europa, superior à de países com mortalidade elevada, como Espanha e Itália.

A “gripe espanhola” foi um grande desastre demográfico no país e há quem defenda que foi o maior desastre demográfico na história da Humanidade. Cálculos, por baixo, apontam que terá provocado 500 milhões de infetados e entre 20 a 30 milhões de mortos.


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