A misteriosa Pedra de Ardegães

António Chaves | C.M. Matosinhos

A Pedra de Ardegães, ou Partida de Ardegães, é um exemplar de arte rupestre, do período Neolítico/Calcolítico, proveniente da Bouça da Cova da Moura, Águas Santas, Maia. Foi identificada na década de 40 do século XX pelo Prof. Santos Júnior, contudo a sua existência já era conhecida na imaginária da população local.

Conta a lenda que a Pedra de Ardegães tinha no seu interior um tesouro, e que para o alcançar, tentaram parti-la ao meio, acontecimento que poderá explicar a fratura existente.

Este monólito granítico tem uma das suas faces totalmente gravada. A composição do desenho é formada por grande reticulado, formado por 260 quadrados, que em alguns locais podem formar retângulos. Em 75 destes retângulos pode-se observar uma covinha no interior. No canto inferior esquerdo deste plano da rocha, surge um motivo que poderá corresponder ao primeiro momento de gravação da rocha. Este motivo é composto por 4 círculos concêntricos, delimitados por um pequeno reticulado.

Numa das faces laterais encontra-se um motivo circular, dois em ferradura e algumas covinhas.

A gravação terá sido efetuada por percussão através de um instrumento de pedra aguçado. A superfície destinada a gravação poderá ter sido sujeita a uma preparação prévia através de polimento.

O interesse científico deste exemplar de arte rupestre sempre foi grande. Na década de sessenta do século XX, foi removida do local original para o edifício da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, com o objetivo de a proteger e valorizar. Desde o ano de 2001, que se encontra no Museu Municipal de História e Etnologia da Terra da Maia.

A Pedra de Ardegães não é o único rochedo gravado da Bouça da Cova da Moura, estava inserida num conjunto mais vasto de outras gravuras rupestres, formando um espaço de memória e ritual utilizado entre o quarto e o primeiro milénio antes de cristo. Este local integra, ainda hoje, 2 monumentos funerários do período neolítico, do tipo mamoa, vestígios do período calcolítico, e uma vasta ocupação da Idade do Bronze, de onde destacamos a presença da prática de fundição de bronze.

Ao contrário da arte rupestre do período Paleolítico, cuja os motivos assentavam quase exclusivamente em representações de animais e naturais, após o Neolítico, surgem os motivos esquemáticos e abstratos, reveladores de outros processos de comunicação e de linguagem, podendo indiciar em alguns casos a delimitação espacial dos domínios territoriais de caça, pastos ou áreas agrícolas.

A Pedra de Ardegães encontra-se em exposição no Museu de História e Etnologia da Terra da Maia, inserida na exposição “Arqueologia na Maia”.

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